Com a crise do petróleo, entretanto, as vendas caíram de maneira considerável, bem como o valor de revenda de todos os carros -nacionais ou importados- com motor V8. Em 1974 a produção caiu para 11.318 unidades, só não despencou ainda mais porque, nos últimos meses daquele ano, ocorreu um providencial descobrimento de novas jazidas de petróleo no litoral fluminense.
Para 1975 os Dodge V8 passaram a ser equipados com o "Fuel Pacer', sistema instalado junto ao carburador que, quando a mistura ficava rica demais, acionava a lâmpada direcional do para-lama esquerdo. Assim, o motorista aliviava a pressão do acelerador -ou utilizava a marcha correta para aquela velocidade- e o carro passava a consumir menos combustível.
Nessa época, a Chrysler montou e começou a testar blocos de seis e quatro cilindros em ,V', todos derivados do 318V8, bem como o motor de seis cilindros em linha do Valiant argentino, mas nenhum foi produzido em série. A desvalorização foi tão grande que, no mercado de usados, um Dart 1969 valia em dinheiro da época apenas Cr$ 9,5 mil, contra Cr$ 13 mil do Corcel standard e Cr$ 11 mil do Volkswagen 1300 fabricados no mesmo ano, veículos que, quando novos, custam menos da metade do valor do Dodge.
No ano seguinte o estofamento foi redesenhado, mas os modelos SE, Gran Coupé e Charger saíram de linha, O R/T passou a ser equipado com bancos anatômicos, sendo os dianteiros de encosto alto, reclináveis, mas sem regulagem milimétrica. Este modelo também passou ter volante igual ao utilizado no restante da linha Dodge, deixando de lado o modelo com três raios, mais esportivo. Para completar as novidades deste ano, foi apresentado, no Salão do Automóvel, o protótipo de um Dart movido à álcool.
No R/T de 1977 a taxa de compressão foi reduzida, passando de 8,4:1 para 7,5:1, o que diminuiu a potência do motor em 10 cv, mas permitiu a utilização da gasolina comum, pois a azul já começava a rarear. Internamente o carro era revestido em couro, disponível nas cores preto, caramelo e vinho, esta última uma novidade, O Dart com alavanca na coluna de direção -de três marchas- tinha escapamento simples, ao contrário do modelo com alavanca no assoalho -de quatro marchas- que vinha com escapamento duplo, igual ao do Charger.
Dos equipamentos que eram opcionais nos modelos básicos do ano anterior, viraram itens standard as luzes do motor, do porta-malas e da iluminação do cinzeiro; ventilação interna com motor elétrico; relógio elétrico; freios a disco com servofreio; ponteira do escapamento cromada; tapetes de buclê; revestimento da porta e painel lateral traseiro almofadados e placa metálica protetora junto ao fecho do quebra-vento. Em 1978 foram montados os últimos Gran Sedan.
Para 1978
Sumiram as entradas de ar falsas do capô do R/T, enquanto o teto de vinil passou a cobrir apenas a metade traseira da capota, conforme já ocorria nos Maverick e Opala -que, inclusive, iniciou esta moda com o modelo Las Vegas. Uma nova calibragem no sistema de carburação tornou o carro um pouco mais econômico e, como de costume, as faixas laterais foram modificadas, tornando-se bem mais largas, posicionadas na parte baixa das laterais. Nesta época um Dart sedã 1969 usado valia Cr$ 25 mil, metade do valor de umVolkswagen 1300 do mesmo ano.
No final de 1978, a montadora apresentou as mudanças para seus carros, incluindo duas versões bem luxuosas para 1979, o Magnum (de duas portas) e o Le Baron (de quatro portas). Ambos foram criados para dar uma sobrevida para a linha Dart -já descontinuada nos Estados Unidos desde 1976- e absorver o público acostumado aos automóveis estrangeiros, que tiveram sua importação suspensa. Foi realizado um "face-lift" na dianteira e traseira, modificação feita por estilistas brasileiros, onde substituíram-se parachoque, molduras de faróis e grades de radiador, tudo sustentado por uma estrutura de fibra-de-vidro, enquanto a traseira passou a ser idêntica à do modelo norte-americano de 1974, com lanternas horizontais.
O Magnum tinha calotas raiadas, teto solar opcional (em vidro e com acionamento elétrico, outro pioneirismo do modelo aqui no Brasil) e teto de vinil dividido em duas partes. Havia ainda uma moldura junto aos vidros laterais traseiros, além de vidros rayban e para-brisa degradê. Como equipamento de série, a Chrysler, passou a oferecer antena de acionamento elétrico e um conjunto com toca-fitas AM/FM estéreo e dois autofalantes coaxiais, instalados na traseira, equipamento disponível tanto para o Magnum quanto para o Le Baron e Charger R/T.
O Charger R/T também reestilizado, apesar de ter perdido o contagiros -substituído por um relógio- e a coluna traseira alongada, tinha três opções de pintura em dois tons -marrom metálico e bege, azul escuro metálico e azul claro metálico e preto e prata- e era vendido com rodas de liga leve, tornando-se, o primeiro carro nacional de série assim equipado. Como no Magnum, havia molduras nos vidros laterais traseiros, mas as do R/T eram no estilo "persianas".
Também com a nova traseira, o Dart passou a ser fabricado utilizando a mesma frente do modelo norte-americano de 1974. Volante, estofamento, painel de instrumentos, carpete e laterais de portas passaram a ser disponíveis nas cores bege, azul ou preta. Os bancos eram forrados em veludo de nylon antiestático e o tanque foi modificado, passando a ter 107 litros de capacidade -contra 62 do modelo anterior- ocupando o lugar do estepe, que foi deslocado para uma posição acima do eixo traseiro, como no Galaxíe.
Mentira no Fim
O fim, entretanto, estava próximo:em janeiro de 1979 a Volkswagen alemã finalmente comprou 67% das ações da Chrysler brasileira. Em abril do mesmo ano Toni Schmueker -presidente mundial da VW- Wolfgang Sauer -presidente da Volkswagen do Brasil- e Donald Dancey -presidente da Chrysler- visitaram as instalações da linha de montagem dos automóveis Dodge e, juntos, anunciaram a intenção de ampliar a produção dos Polara, Dart, Charger R/T e Le Baron.
Em maio, Klaus Hadulla -substituto de Dancey- reafirmou o compromisso de não interromper a fabricação da linha Dodge, além de divulgar o interesse da VW em ampliar a rede de revendedores Chrysler, que ganhariam mais 24 lojas -haviam 117 na ocasião- atingindo um total de 180 dentro três ou quatro anos. Era uma mentira, suficiente apenas para dar credibilidade aos carros e desovar os modelos que estavam estocados no pátio.
A produção dos Dodge V8 em 1980 foi de apenas 388 unidades, e o Charger R/T praticamente desapareceu, transformando-se num modelo comum, sem nenhum diferencial além do emblema. Em novembro de 1980 a VW comprou o restante das ações da empresa e, em abril de 1981, Sauer afirmou que só poderia vender automóveis se houvesse demanda, e que todos sabiam que não existia demanda para os automóveis Dodge, dando como exemplo o Dart, que em dois meses não vendera sequer uma unidade.
O presidente da montadora alemã disse ainda que estes carros seriam fabricados, no máximo, por apenas mais seis ou sete meses, raciocínio que rapidamente se concretizou: no mês de agosto a VW parou de fabricar tanto a Variant II quanto os veículos da linha Dodge. A montadora alemã passou a utilizar as antigas instalações da Brasmotor/Simca/Chrysler para produzir seus caminhões -a álcool e a gasolina equipados com o motor 318 V8, encerrando assim a história dos Dart/Charger no Brasil.
Fonte: Rogério Ferraresi Texto retirado da revista Auto & Técnica/Classic Cars nº 21